Queimem seus Navios

Dizem que quando Hernando Cortez chegou ao México , ele mandou queimar todos os seus navios que transportavam cerca de 600 homens com ele. Talvez , Cortez não os tenha queimado e sim , pela necessidade de usar a madeira, tenha mandado desmontá-los.
O fato é que Cortez impossibilitou qualquer saída dele e de seus homens daquela região até então desconhecida. O desconhecido nos impõe medo e , seria natural que frente à tantas diversidades e perigos ali presentes, alguns de seus homens tendessem a tomar o caminho de volta à Espanha.
Não é assim que nos vemos quando estamos diantes de uma mudança em nossa vida? Há sempre uma vontade inerente de deixarmos pistas pelo caminho pra que possamos retornar , caso aconteça algo que foge aos nossos planos. Pisando nas mudanças , estamos pisando no que não temos mais no domínio e isso nos remete aos riscos do " pode dar certo, pode dar errado". Nos atira fora da nossa zona de conforto onde nos mantivemos até então e, na qual, por conhecermos tão bem, não nos atira aos riscos.
Mudar de casa é nos atirarmos aos riscos , mudar de cidade, acabar uma relação , nos permitir nova relação , mudar de emprego,  tudo o que se apresenta como novo , nos coloca em risco. Se deixamos a porta de volta entreaberta, nos primeiros perigos , medos e incertezas recuamos e nos privamos de conhecer o que o novo tinha a nos oferecer. Bater retirada é sempre uma maneira fácil e, de certa forma , confortável de nos garantir. Aliás, temos uma forte tendência a querer as garantias , quando sabemos que a única que temos é a de que vamos morrer. Não há garantias de nada! Nunca houve e nunca haverá. Tudo vai depender das construções feitas ao longo da caminhada. Não há garantias. Há, sim, muitas dúvidas, incertezas e inseguranças absolutamente normais dentro de qualquer processo de mudança.
Mas atentemos: determinadas decisões e escolhas exigem que tenhamos o comprometimento de não recuarmos e seguirmos em frente. Queimemos nossos navios! É preciso seguir com coragem sem a velha covardia que norteia tanto algumas das nossas decisões. Seguir em frente é o que nos resta e o que nos levará às novas conquistas.  Decidir, queimar os navios, fechar todas as portas de recuo, jogar as chaves fora e prosseguir ! Só assim seremos conquistadores do nosso próprio império. Sem garantias, correndo riscos , mas prosseguindo adiante. Caso contrário , estamos sempre nos condenando ao que é, mesmo que o que é não seja o melhor que sonhamos um dia. Sonhar com futuro exige que queimemos nossos navios. Não podemos prosseguir com um dos pés no futuro e o outro no passado , quando a única verdade que possuímos  é o presente, o que temos neste momento. Nada mais além disso.

Sonia Cavalcante